O autismo ou “Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)”, é caracterizado por um transtorno que impacta no desenvolvimento da pessoa, podendo interferir na forma como ela percebe o mundo ao redor e interage com os outros, ocasionando desafios sociais, de comunicação (verbal ou não) e comportamentais. Trata-se de uma condição crônica, de uma deficiência neurológica, e não de uma doença.
Inicialmente, o autismo era enquadrado como uma forma de esquizofrenia, o que levou à crença de que poderia ter sua causa ligada a alguma experiência negativa ou por consequência de má criação dos pais ou responsáveis. Este conceito já foi refutado.
Embora não se saiba ao certo as causas, podem ser acreditados como fatores do espectro do autismo aspectos genéticos (na maioria dos casos) e ambientais. A idade avançada dos pais ao terem filho também tem sido apontada por estudos como uma causa ligada à condição.
Nos últimos anos muito se avançou em pesquisas (são dezenas emitidas mensalmente), bem como na prática clínica, contribuindo com melhoria da qualidade de vida do autista e com o diagnóstico precoce do distúrbio, que pode ser classificado conforme o grau, sendo considerados os três que seguem: autismo leve, autismo moderado, autismo severo.
Os casos de TEA são mais comuns do que se pode imaginar, sendo mais recorrentes entre o sexo masculino do que no feminino. Pode ser observado em todos os grupos raciais, étnicos e sociais. Estima-se que o autismo atinge 1% da população, 70 milhões de pessoas no mundo conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Destes, 2 milhões estão no Brasil segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre os comportamentos que podem ser observados em quem apresenta TEA há três que podem se manifestar isoladamente ou em conjunto: comprometimento da interação social; da comunicação verbal e não verbal e comportamentos repetitivos e estereotipados, que podem variar de intensidade.
Podem ser percebidos por movimentos motores repetitivos (balançar de mãos, do corpo), insistência na uniformidade dos atos, irritabilidade com sons e volume alto, resistência à mudanças e, em alguns casos, agressividade.
Muitos indivíduos dentro do espectro do autismo têm deficiências cognitivas significativas, embora alguns apresentem QIs acima da média. As habilidades de aprendizagem, pensamento e resolução de problemas das pessoas com TEA podem variar de superdotadas a severamente desafiadas.
Autistas veem, ouvem e sentem de forma diferente. Por isso, em cada situação há diferentes níveis de suporte para o desenvolvimento do autista para que ele extraia o máximo de seu potencial intelectual, psicológico e cognitivo, podendo assim levar uma vida digna e, em sua maioria, com autonomia e independência para realizar suas atividades.
Um pouco de história
O termo “autismo” foi utilizado pela primeira vez pelo pesquisador suíço Eugene Bleuler, em 1908, para indicar uma perda de contato do indivíduo com a realidade, por meio do voltar-se ao eu, a “si”. Daí o termo “auto”. Neste momento os sinais eram relacionados aos aspectos da esquizofrenia em adultos.
No ano de 1943, o psiquiatra infantil e diretor do serviço de psiquiatria infantil do Hospital Johns Hopkins, Leo Kanner, após acompanhar a rotina de 11 crianças que mostraram desde o nascimento uma acentuada falta de interesse por outras pessoas, mas um importante e altamente incomum foco num ambiente inanimado, publicou o artigo “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”. Ele então toma emprestada a nomenclatura de Bleuler e, pela primeira vez, fez uso do termo “autismo infantil”. Os sinais clínicos não eram idênticos aos descritos pelo pesquisador suíço e, ao contrário da esquizofrenia, os pacientes de Kanner pareciam ter autismo desde o nascimento.
Em 1944, o psiquiatra austríaco Hans Asperger publica estudo em que as crianças com autismo apresentavam limitações, mas com certa desenvoltura cognitiva e inteligência. É dele que vem o nome “Síndrome de Asperger” – considerada uma condição relacionada ao autismo, porém mais leve.
Hoje a Síndrome de Asperger integra o conceito de Transtorno do Espectro do Autismo, cunhado em maio de 2013, com o lançamento da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) da Associação Americana de Psiquiatria. O material apresenta termos para classificação e diagnóstico na área da saúde mental.
Saiba mais
• Dia 2 de abril é data em que a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. O objetivo da iniciativa é promover a reflexão e conscientização sobre o assunto, bem como desmistificar preconceitos ainda existentes acerca do TEA.
• Os cientistas mundialmente conhecidos por suas extensas contribuições à humanidade, Albert Einstein e Isaac Newton, podem foram considerados clássicos portadores de autismo leve (Síndrome de Asperger). Esta perspectiva foi apontada por pesquisadores da Universidade de Cambridge e da Universidade de Oxford, estudaram as personalidades e a biografia de ambos.
Referências:
The National Autistic Society
Autism Science Foundation
From Kanner to DSM-5: autism as an evolving diagnostic concept