Como é realizado o diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)?

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Neste artigo vamos discutir um assunto muito importante: Como é feito o diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)?

Ainda é bastante comum que os pais de filhos autistas comentem que demoraram a ter um diagnóstico correto.  Essa situação é bastante preocupante, pois a identificação dos sinais do TEA em sua fase inicial é fundamental para iniciar uma intervenção precoce e assim melhorar a qualidade de vida dos autistas.

Com o diagnóstico do transtorno é possível ampliar a perspectiva de desenvolver as capacidades da pessoa com autismo. Tanto as questões cognitivas, como as questões sociais e as de linguagem também.

Quanto antes a pessoa com TEA receber o diagnóstico e iniciar as intervenções, melhor. Com as intervenções, a pessoa conseguirá ser cada vez mais independente e ter autonomia para realizar as suas atividades diárias.

Mas, vamos lá: você sabe como é realizado o diagnóstico do TEA? Esse diagnóstico é clínico e é baseado nas evidências científicas destacadas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria, conhecido também como DSM-5, pois está na sua quinta edição.

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Sendo assim, O DSM-5 é o ponto de partida para identificar se uma pessoa tem ou não o Transtorno. Vamos destacar os pontos principais que estão descritos no DSM-5:

– Dificuldade persistente na comunicação social e na interação social nos mais variados contextos. Ou seja, a pessoa tem dificuldade de relacionar e se envolver e de realizar comportamentos não verbais.

– Padrões restritos, repetitivos de comportamento e de interesses. Tem a fala repetitiva, movimentos motores ou usa objetos de forma repetitiva ou estereotipada. A pessoa apresenta também apego à rotina e rituais, são resistentes às mudanças e tem interesse fixo em algo de forma intensa.

– Alteração na percepção sensorial de estímulos do ambiente, que pode ser em excesso ou sem interesse.

Para chegar a um diagnóstico de autismo, o médico especialista, normalmente o neuropediatra ou o psiquiatra infantil realiza uma entrevista com os pais e observa a criança para avaliar os comportamentos. Além do médico especialista é importante ter uma equipe multidisciplinar para auxiliar neste diagnóstico. Essa equipe normalmente é formada por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, assistente social e o psicopedagogo entre outros profissionais.

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Em alguns casos é solicitado testes genéticos ou exames específicos para identificar problemas de saúde relacionados com o autismo e para descartar outras síndromes. Mas não há exames de imagem ou de laboratório que confirmem o TEA. O diagnóstico é clinico!

Esse diagnóstico costuma ocorrer quando a criança tem cerca de 2-3 anos de idade, mas é possível diagnosticar mais cedo pois alguns sinais já são perceptíveis.

Alguns sinais:

A criança pode demorar um pouco mais para se desenvolver e interagir com o meio externo. Então se demorar a falar, andar e responder as pessoas podem ser alguns indícios do autismo.

Além disso, os pais são os primeiros a notar que seu filho está mostrando comportamentos incomuns, como não fazer contato visual, não responder ao seu nome quando chamado,  brincar com brinquedos de formas incomuns e repetitivas. Por isso, é importante buscar ajuda especializada para ter certeza se é ou não autismo.

Esses sinais devem estar presentes logo na infância, mas também podem ser percebidos e aparecer aos poucos. Infelizmente, há casos de pessoas que demoram anos para ter um diagnóstico correto e só vão descobrir que estão dentro do espectro do autismo na vida adulta. Passam a vida inteira com dificuldades de socialização, comunicação atípica e não conseguindo se encaixar nos padrões da sociedade e muitas vezes sofrendo com tudo isso.

Por isso, cabe esse alerta para os pais e familiares: acompanhe de perto a evolução da criança e preste atenção em suas atitudes. Quanto antes o Transtorno for reconhecido, maiores são as perspectivas no desenvolvimento da pessoa.

Algumas ferramentas para o diagnóstico do autismo

Vamos falar agora sobre algumas ferramentas usadas para o diagnóstico do autismo.

É importante destacar novamente que o diagnóstico do autismo é clínico, não há um exame que possa detectar se a pessoa é ou não autista.

Por isso, os especialistas se baseiam na observação dos indicadores de desenvolvimento, nos comportamentos, nas habilidades emocionais, sociais e cognitivas, além do histórico da pessoa.

Ao longo dos anos, foram criadas ferramentas para sistematizar a forma de diagnóstico do TEA.

Lembrando que o diagnóstico e rastreio de autismo somente deve ser realizado por profissionais treinados e capacitados para isso.

Vamos detalhar algumas dessas ferramentas:

ADOS-2 e ADI-R

São escalas de avaliação diagnósticas que ajudam a identificar se a pessoa é autista. O ADOS-2, por exemplo, é uma escala de observação e o ADI-R é uma escala de entrevista. Essas duas escalas devem ser aplicadas por profissionais capacitados nessas avaliações.

Ambas conseguem mostrar o grau do autismo e se as intervenções realizadas pelos especialistas estão sendo eficientes e há evolução no quadro.

Com o ADOS-2 é realizada uma avaliação da comunicação e da interação social em pessoas com suspeitas de autismo ou atrasos de desenvolvimento.  

O ADOS-2 possui módulos específicos e cada um deles é apropriado para crianças e adultos de diferentes níveis de desenvolvimento e linguagem, podendo ser verbal e não verbal.

O primeiro módulo inclui cenários que envolvem brincadeiras, rotinas e comemorações. Já o segundo módulo envolve conversas, demonstrações de tarefas, descrições de figuras, brincadeiras e leitura de livros. 

O terceiro módulo utiliza algumas das atividades do segundo módulo, mas também incluem desenhos animados, relatórios de conversas, análise emocional, desafios sociais e criação de histórias.

O último e quarto módulo é voltado para adolescentes e adultos verbalmente fluentes e inclui discussões de histórias, trabalho, escola, livros, amizade, solidão, relacionamentos e planos futuros.

Os comportamentos dos indivíduos são codificados usando um sistema de classificação de zero a três pontos. O zero indica comportamento típico.

O ADI-R  vem do inglês Autism Diagnostic Interview-Revised e em tradução livre significa Entrevista para Diagnóstico do Autismo Revisada.

Sendo assim, é uma escala de entrevista que é realizada com os pais ou responsáveis pela pessoa com suspeita de autismo. Ela mede os comportamentos nas áreas de interação social, comunicação e linguagem e padrões de comportamentos. 

A entrevista visa descobrir toda a história do desenvolvimento da pessoa e pode ser realizada em um consultório, em casa ou em outro ambiente.

O especialista faz perguntas para identificar comportamentos. Após a conclusão da entrevista, ocorre uma avaliação que pontua de 0 a 9 de acordo com cada pergunta realizada e os especialistas conseguem assim definir se a pessoa está dentro do Espectro do Autismo.

CARS

O CARS, sigla do inglês Childhood Autism Rating Scale  ou Escala de Classificação do Autismo na Infância, em português.

É uma escala de classificação do comportamento com o objetivo de rastrear o autismo. Foi projetada para ajudar a diferenciar crianças com autismo daquelas com outros atrasos no desenvolvimento, como deficiência intelectual.

O CARS avalia e classifica as pessoas de acordo com alguns critérios. Por isso, os especialistas avaliam como é o relacionamento com as pessoas, se há adaptação de mudanças, resposta visual, questões relacionadas ao medo e também à comunicação verbal.

GARS

O Gilliam Autism Rating Scale, ou a sigla GARSé uma ferramenta de triagem para diagnosticar o Transtorno do espectro do autismo em indivíduos entre 3 e 22 anos de idade. Foi projetada para ajudar a diferenciar aqueles com autismo das pessoas com transtornos comportamentais.

Avaliam-se os itens que descrevem os comportamentos característicos de pessoas com TEA: comportamentos restritivos, repetitivos, interação social, comunicação social, respostas emocionais, habilidades cognitivas e comunicação verbal. Por isso, o especialista consegue avaliar e saber a gravidade do TEA.

DSM-5

O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição ou DSM-5 e foi elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria e ajuda no diagnóstico de transtornos mentais.

O DSM-5 classifica como autista pessoas com déficits em comunicação e interação sociais persistentes, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.

De acordo com o DSM-5, O TEA pode ser medido com base na sua gravidade: nível 1 – são pessoas que necessitam de pouco suporte; nível 2 ou moderado, que necessitam de apoio, mas com menor intensidade do que o nível 3, que o nível severo, quando a pessoa necessita de maior apoio por ter um déficit considerado grave nas habilidades de comunicação verbais e não verbais.

Avalia-se também se há déficit intelectual, de linguagem, alguma condição médica ou genética conhecida, outras desordens do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental e catatonia, ou seja, a incapacidade de se mover normalmente.

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Cofundadora da NeuroConecta.