Autismo nível 1 em adultos

Adultos com autismo nível 1 enfrentam desafios específicos que podem impactar suas vidas diárias de maneiras profundas. Embora não precisem de suporte intensivo, como ocorre em outros níveis do espectro, ainda assim lidam com dificuldades que podem afetar aspectos sociais, emocionais e profissionais. Esses desafios nem sempre são visíveis, mas podem interferir no bem-estar e na capacidade de viver plenamente.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) ou autismo, é um transtorno do neurodesenvolvimento que traz prejuízos na comunicação e interação social e no comportamento da criança. Portanto, pode interferir na forma como ela percebe o mundo ao redor e interage com os outros, ocasionando esses desafios sociais.

O autismo pode ser classificado conforme o nível de necessidade de suporte da pessoa, sendo considerados três níveis: nível 1 ( conhecido como “autismo leve”), nível 2 (conhecido como “autismo moderado”) e nível 3 (conhecido como “autismo severo”).

Saiba mais em: O que é o autismo (TEA)?

Desafios Comuns em Adultos com Autismo Nível 1

1. Desafios Sociais e de Comunicação

Os adultos com autismo nível 1 geralmente encontram dificuldades em interpretar a comunicação não verbal e entender normas sociais implícitas. Isso pode levar a mal-entendidos ou a interações que, para eles, parecem naturais, mas para outros podem ser interpretadas como “fora do comum”. Pequenos detalhes, como entender sarcasmo ou expressões faciais sutis, podem ser desafiadores, resultando em frustração e isolamento social. As pessoas com autismo nível 1 geralmente precisam de mais tempo para processar as interações e preferem comunicação direta e objetiva.

2. Dificuldades no Ambiente de Trabalho

No ambiente de trabalho, desafios específicos se tornam mais evidentes, especialmente em situações que exigem adaptação constante. Reuniões repentinas, mudanças de tarefas sem aviso prévio e ambientes com estímulos sensoriais intensos podem ser estressantes. Além disso, interações sociais frequentes, como reuniões em grupo e eventos corporativos, podem sobrecarregar a pessoa com autismo nível 1. A necessidade de adaptação ao ambiente corporativo é uma questão recorrente, e muitas vezes, essas pessoas acabam buscando carreiras que ofereçam maior previsibilidade e menos contato social intenso.

3. Sensibilidade Sensorial

Outro desafio comum para adultos com autismo nível 1 é a hipersensibilidade sensorial. Sons altos, luzes fortes e até mesmo determinadas texturas podem causar desconforto significativo e, em alguns casos, sobrecarga sensorial. Essa sensibilidade pode tornar situações cotidianas, como usar transporte público ou estar em um escritório movimentado, extenuantes. Muitas vezes, para gerenciar essa sensibilidade, os adultos no espectro recorrem a ferramentas de acomodação sensorial, como fones de ouvido com cancelamento de ruído ou óculos com lentes especiais para ambientes muito iluminados.

4. Questões de Saúde Mental

Devido aos constantes desafios sociais e sensoriais, é comum que adultos com autismo nível 1 apresentem outras comorbidades associadas como ansiedade e depressão. A dificuldade em entender e navegar nas complexas dinâmicas sociais pode gerar sentimentos de solidão, frustração e, muitas vezes, depressão. Adicionalmente, a luta para “se encaixar” em uma sociedade que muitas vezes não compreende as necessidades e características do autismo pode ser desgastante e contribuir para problemas de saúde mental.

5. Autoconsciência e Identidade

Finalmente, muitos adultos diagnosticados com autismo nível 1, especialmente aqueles que receberam o diagnóstico na vida adulta, enfrentam o desafio de redescobrir a própria identidade. O diagnóstico traz uma nova perspectiva sobre suas experiências passadas, comportamentos e reações. Esse processo de autoconsciência é, ao mesmo tempo, libertador e desafiador. Entender como o autismo molda a própria maneira de perceber o mundo pode ajudar na autoaceitação, mas também levanta questões sobre como se adaptar sem perder a própria essência.

Esses desafios são apenas uma parte da experiência de adultos com autismo nível 1, mas compreender essas dificuldades é essencial para promover a inclusão e o apoio necessário para uma vida mais equilibrada e satisfatória.

Leia também:

Como é realizado o diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)?

Comorbidades comuns no autismo

Referências:

The National Autistic Society
Autism Science Foundation
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2023


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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.