Autismo na vida adulta: o que é preciso saber

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“Como será a vida do meu filho quando ele atingir a idade adulta?”

A preocupação com o futuro é uma das questões recorrentes que povoam os pensamentos de pais que têm filhos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Afinal, como será o futuro de uma criança com autismo? Isso pode depender de variáveis como grau de acometimento do distúrbio e das habilidades desenvolvidas neste indivíduo. Em linhas gerais este horizonte é positivo e pode ser promissor.

Quando um indivíduo tem o espectro autista identificado ainda nos primeiros anos de vida uma série de ações são introduzidas no processo de desenvolvimento infantil para que sejam estimuladas e aperfeiçoadas habilidades que possibilitem extrair ao máximo seu potencial intelectual, psicológico e cognitivo. Há estudos que apresentam evidências de que os principais sintomas do autismo diminuem em algum grau na adolescência e na idade adulta, com melhorias nas habilidades de comunicação.

Com isso, a expectativa é de que tanto na adolescência quanto na fase adulta o autista possa levar uma vida com dignidade e, em sua maioria, com autonomia e independência para realizar suas atividades com segurança.

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A perspectiva é que o adulto com TEA tenha competências que o possibilitem cuidar de si – desde a higiene ao preparo de suas refeições; bem como transitar pela cidade de ônibus ou metrô, além de ingressar numa faculdade e estudar, conseguir um emprego, morar sozinho, constituir família, conquistar autonomia financeira e pessoal e tudo o mais que deseje e esteja ao seu alcance.

Embora o cenário possa ser positivo, há uma série de desafios a serem vencidos. A começar pelo acompanhamento da saúde do autista que passará por uma transição da assistência de um pediatra para um médico de adultos. Este profissional deverá manter os cuidados e tratar de possíveis deficiências de comunicação e sensoriais, para que o quadro do agora adulto com TEA possa se manter em evolução.

Os adultos com autismo são mais suscetíveis a quadros de ansiedade e têm maior risco de desenvolver diabetes, distúrbios gastrointestinais, epilepsia, distúrbios do sono, problemas de colesterol, pressão alta e obesidade.

Outro aspecto que pode representar uma barreira refere-se ao enfrentamento de uma questão que não cabe ao autista, mas impacta diretamente em sua vida: o preconceito. Ainda há na sociedade dificuldade de integrar o indivíduo com TEA em situações como no trabalho e numa sala de aula. Um ambiente hostil e, até mesmo, sujeito à bullying, pode ser um obstáculo. Comportamentos de pessoas que possam agredir de alguma forma o autista devem ser desencorajados e combatidos para que ele possa executar suas tarefas da melhor maneira possível. Pessoas com autismo possuem determinadas habilidades específicas nas quais são realmente talentosos. Esta característica do TEA podem tornar o autista um excelentes candidato a uma vaga de emprego por exemplo.

TEA na vida adulta: impactos de um diagnóstico tardio

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Há casos ainda de pessoas que obtém o diagnóstico de TEA apenas quando adultos. Estes podem passar anos com a sensação de que algo não se encaixa em suas vidas até se descobrirem com o espectro. O perfil deste grupo costuma ser daqueles que têm um grau leve do espectro, não apresentam deficiência intelectual ou déficit de linguagem. Costumam ter as características do espectro (desafios e/ou restrições sensoriais ao toque, sons, luzes, texturas, sabores) vistas como timidez, ingenuidade, como antissociais, ríspidas.

O diagnóstico tardio pode ser um alívio, mas ao mesmo tempo pode causar impacto e transformar o olhar que a pessoa tem sobre si. Após tomarem conhecimento de que tem o distúrbio, poderão receber o suporte pós-diagnóstico para desenvolverem aspectos comportamentais e sensoriais que sejam necessários, se o forem. Relatos de pessoas com TEA que descobriram o espectro já na fase adulta remetem a este conflito interior, em que é preciso redescobrir a si e ao mundo ao seu redor. Terapia ocupacional e atividades de integração social podem auxiliar neste período de reconhecimento e adequações.

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Referências:

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Sarris, M. Leaving the pediatrician: charting the medical transition of youth with autism. Interactive Autism Network (IAN) at Kennedy Krieger Institute. June 19, 2014

Disponível em <https://iancommunity.org/ssc/medical-transition-youth-autism> Acessado em 10 de outubro de 2017.

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Cofundadora da NeuroConecta.