Autismo e inclusão: a importância da adaptação dos conteúdos didáticos para alunos autistas

Um dos grandes desafios dos educadores de pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é contribuir com o processo de inclusão escolar e fazer com que esses alunos aprendam e acompanhem o conteúdo das aulas.

Para ter sucesso na inclusão é importante a adaptação dos conteúdos didáticos.

A utilização dos recursos didáticos corretos é fundamental para a inclusão e para que o aluno com TEA absorva os conteúdos educacionais e realmente aprenda.

Por isso, uma forma de melhorar o aprendizado é investir na adaptação dos conteúdos didáticos. Isso é necessário porque os autistas sentem dificuldade de aprender da forma tradicional e ter esse apoio pedagógico facilita o processo de aprendizagem e inclusão.

É necessário que a adaptação dos conteúdos didáticos das aulas seja realizada de acordo com o repertório comportamental de cada aluno.

Mas, vale destacar que nem toda criança com o Transtorno do Espectro do Autismo precisará de uma adaptação dos materiais didáticos.

Plano de Ensino Individualizado (PEI)

A adaptação atenderá a necessidade individual da criança. Por isso, uma das melhores maneiras de ensinar uma criança com dificuldades de aprendizagem ou desenvolvimento atípico é por meio do Plano de Ensino Individualizado (PEI).

Lembrando que a adaptação dos conteúdos didáticos mantém a integridade do conteúdo no currículo, mas pode apresentá-lo em um formato diferente ou alterar o ambiente no qual o aluno aprende com base nas suas necessidades e habilidades individuais.

A equipe de ensino, que pode ser formada por professores, pedagogos, psicopedagogos, precisa avaliar caso a caso e averiguar em que nível cada criança está em cada disciplina, quais conteúdos já absorveu e o que ainda não aprendeu.

Após essa avaliação, eles devem decidir se a criança seguirá o mesmo currículo da turma ou se o aluno precisará de um currículo totalmente individualizado e paralelo ao da classe. Em seguida, essa equipe deve planejar a produção do conteúdo didático individualizado e adaptado.

Mas como deve ser esse material didático adaptado? Não há uma fórmula exata, uma vez que cada criança com o TEA é única, mas o ideal é que as tarefas complexas sejam fragmentadas em etapas e que as atividades sejam lúdicas.

O material didático precisa ser atraente e adequado para os níveis da criança com o TEA. É importante que o material didático seja objetivo, os enunciados sejam menores e é necessário evitar longos textos que exijam uma interpretação complexa.

Alguns outros exemplos

  • Ter menos exercícios por página, pois uma página lotada de informações pode distrair a pessoa com TEA e tirar o foco do objetivo da atividade ou aula;
  • Ter mais atividades para ligar, recortar e colar, pintar, circular, marcar X etc;
  • Ter temas de interesse da criança em todas as atividades. Ela precisa ser estimulada e ter vontade de fazer determinada atividade;
  • Os conteúdos precisam ser simples e reduzidos. Por isso, o material didático deve focar no que realmente é importante para aluno e que possa ser aplicado no seu cotidiano;
  • Evitar questões dúbias e com duplo sentido. As metáforas e figuras de linguagem devem ser excluídas, pois elas são um desafio para crianças autistas e podem causar desconforto e desestimular a aprender;
  • As imagens e desenhos são aliados nesses casos. O material didático deve ter bastantes recursos visuais, pois o aluno com o TEA fica mais interessado para consultar e interpretar os exercícios e atividades propostas.

Outros aspectos fundamentais para a inclusão escolar de crianças com TEA

Além do material didático adaptado, as instituições de ensino devem oferecer recursos de apoio para que a inclusão aconteça de verdade.

Além disso, a equipe responsável pela aprendizagem do aluno precisa ficar atenta para respeitar o ritmo da aprendizagem da criança e mudar o tempo previsto das atividades para que cada aluno possa alcançar os objetivos propostos.

Também poderá ser necessário modificar as instruções das atividades, alterar o formato das aulas, explorar novos ambientes e usar estratégias de ensino diferenciadas.

E para saber se todas essas estratégias estão funcionando é fundamental observar com regularidade o avanço do aluno e se as dificuldades persistem.

Leia também: Inclusão escolar: um direito do autista

Referências:

http://www.hdesd.org/files/2015/06/A-LLIS-03_Autism-Strategies.pdf

https://www.education.vic.gov.au/school/teachers/learningneeds/Pages/supportmaterials.aspx

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.