Estudos apontam para uma maior prevalência de casos de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) em meninos do que casos de autismo em meninas, sendo cerca de 1 menina para cada 3-4 meninos, conforme dados dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças norte-americano (CDC).
Aliás, até alguns anos atrás a prevalência de estudos voltados para compreender o espectro eram prevalentemente centrados em homens, o que pode ter facilitado o diagnóstico nesse grupo.
Entretanto, essa realidade vem mudando. Pesquisadores têm observado que o TEA pode, na verdade, estar sendo subdiagnosticado em pessoas do sexo feminino e haver mais mulheres no espectro do que se imagina.
Mas, por que é tão difícil diagnosticar o distúrbio no sexo feminino?
Certamente, entre as razões que podem explicar o porquê de o autismo ser mais complexo de se identificar nas meninas, está o fato de as técnicas diagnósticas desenvolvidas serem voltadas para as especificidades do TEA no sexo masculino, exatamente por ser esse o gênero mais prevalente em estudos sobre o TEA.
Ademais, meninas não se encaixam em grande parte dos estereótipos do espectro e, também, tendem a mascarar os sintomas melhor que os meninos. Esse é o caso do comportamento social, considerado um dos maiores fatores para identificar o TEA.
Todavia, meninas tendem a disfarçar mais suas limitações sociais em relação aos meninos, por apresentarem a capacidade de imitar comportamentos de outras meninas da mesma idade. Elas também parecem ter menos atitudes repetitivas e restritas que os meninos no TEA.
Essa “ausência” de estereotipias bem demarcadas, pode contribuir para dificultar uma suspeita de autismo. Isso se deve à estrutura cerebral, que difere entre meninos e meninas, na região do cérebro responsável pela capacidade motora. Além disso, aspectos hormonais podem estar ligados às diferenças entre meninas e meninos com TEA.
O que os estudos dizem?
Estudos também apontam que meninas precisam apresentar dificuldades comportamentais ou intelectuais mais severas para que se pense em autismo como causa desses déficits.
Sendo assim, quando o distúrbio é mais leve, pode passar anos sem ser identificado ou, até mesmo, ter sua condição equivocadamente considerada como outro transtorno, como de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), obsessivo-compulsivo (TOC) e, até mesmo, alimentar, como anorexia.
Quando identificadas tardiamente no espectro, as meninas perdem a oportunidade de terem suas habilidades desenvolvidas precocemente, o que pode melhorar sua condição.
A boa notícia é que cada vez mais estudos têm se voltado para analisar o sexo biológico e os papeis de gênero e como esses fatores podem ensinar mais sobre o autismo em meninas.
A ideia é avaliar a população feminina com autismo, desde a infância até o início da idade adulta e traçar novos modelos de diagnóstico, não apenas pautados nas características masculinas, como os atuais.
Por meio desses avanços nessa área de estudo do TEA deverá ser possível direcionar melhor as condutas terapêuticas em conformidade com as necessidades específicas de meninas.
Referências:
Erin Digitale. Girls and boys with autism differ in behavior, brain structure. Stanford Medicine News Center. Disponível em https://med.stanford.edu/news/all-news/2015/09/girls-and-boys-with-autism-differ-in-behavior-brain-structure.html Acessado em 24 de março de 2018.
Jennifer Malia. A New Look at How Autism Affects Girls. The Cut. Disponível em < https://www.thecut.com/2017/08/a-new-look-at-how-autism-affects-girls.html> Acessado em 24 de março de 2018.
Maia Szalavitz. Autism—It’s Different in Girls. Scientific American. Disponível em https://www.scientificamerican.com/article/autism-it-s-different-in-girls/ Acessado em 25 de março de 2018.
Why Many Autistic Girls Are Overlooked. Child Mind Institute. Disponível em https://childmind.org/article/autistic-girls-overlooked-undiagnosed-autism/ Acessado em 25 de março de 2018.