Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) no autismo

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No artigo de hoje vamos falar um pouquinho sobre o Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) no autismo. Você já ouviu falar sobre o TPS? Muitas crianças, jovens e adultos com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) podem apresentar também o TPS.

Estudos mostram que as habilidades sensoriais dos autistas podem ser ineficientes. Sabe-se que os estímulos sensoriais não são registrados adequadamente e também não são modulados de forma correta pelo cérebro, pelo Sistema Nervoso Central (SNC) da pessoa.

A pessoa com TPS pode apresentar por exemplo uma sensibilidade maior aos estímulos do ambiente ou ainda uma sensibilidade muito menor, que chamamos de hipersensibilidade e hipossensibilidade.

Quando há hipersensibilidade, a pessoa percebe os estímulos do ambiente com mais facilidade. Por isso, acham as luzes e as cores muito brilhantes, os sons ficam bem intensos, os odores se tornam muito fortes e as sensações táteis são interpretadas de modo profundo.

Já quem tem hipossensibilidade precisa de bastante excitação ou esforço para sentir o estímulo. Nesses casos, a pessoa costuma ser agitada, faz mais bagunça, tem pouca resposta à dor ou gosta de muito barulho, por exemplo.

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Essas alterações sensoriais podem ser visuais, por exemplo, a pessoa tem dificuldades de diferenciar tamanhos, formatos e cores de objetos, calcula errado uma distancia e tem uma noção espacial pobre o que faz com que essa pessoa caia com frequência ou esbarre muito nas coisas ao redor.

Essas alterações sensoriais também podem ser auditivas (por exemplo a pessoa não suporta ambientes com muito barulho e fica tapando os ouvidos), podem ser olfativas, vestibular (que está relacionado com a sensação de movimento principalmente da cabeça. Por exemplo se a criança é hipossensivel na questão vestibular ela normalmente vai ficar pulando, rodando e girando ao redor do corpo), também podem ser gustativas e tátil (em relação ao toque e temperatura). Então todas essas questões sensoriais podem se apresentar de diferentes formas e intensidades.

Os autistas muitas vezes sentem muitas dificuldades para lidar com as diversas sensações do ambiente.  É muito comum pessoas com autismo apresentarem essas questões sensoriais e se sentir incomodados com sons, luzes, texturas, movimentos, toques e sabores. E isso pode levar a crises.

Tudo aquilo que causa uma experiência sensorial pode impactar no comportamento da pessoa com autismo. Por isso que é importante sabermos diferenciar birras de crises.

Aparentemente, o comportamento pode parecer semelhante, mas há algumas diferenças.

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A birra é intencional e é usada como estratégia. A criança faz birra para chamar a atenção e pode acontecer por causa de uma frustração. A birra diminui depois de ser ignorada,  acaba após a criança receber o que quer. A birra deve desaparecer depois que a criança cresce.

Já a crise não é intencional e não é realizada como uma estratégia.  É uma forma de controlar as emoções. Não tem idade para acontecer. Ela serve para o autista se expressar, mostrar que algo não está agradando, não quer dizer que ele quer chamar atenção. Pode acontecerdevido a um estímulo sensorial. A crise passa depois de um desgaste emocional. Pode apresentar sintomas antes das crises, como balançar o corpo.

Normalmente as crises ocorrem por questões de problemas de processamento sensorial.

Essas dificuldades sensoriais são consideradas uma característica do TEA e até mesmo são usadas como um dos critérios para o diagnóstico do autismo.

No DSM-5, dentro de Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades o DSM fala sobre a possível presença de Hiper ou Hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente.

O DSM cita como exemplo o seguinte: indiferença aparente a dor/temperatura, reação a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento.

Obviamente, esses problemas de integração sensorial podem comprometer bastante a qualidade de vida do autista e o seu desenvolvimento.

Muitas crianças com TPS por exemplo não conseguem brincar direito. Elas podem parecer desajeitadas em atividades que envolvam movimentos ou não conseguem segurar objetos. Tudo isso pode causar muito mal-estar para a criança e fazer com que ela não consiga interagir com os seus coleguinhas. Ela acaba tendo uma resposta emocional negativa a essas sensações que a incomodam.

Sinais do TPS no autismo

Cada criança é única, mas elas podem apresentar alguns comportamentos parecidos que indicam o TPS:

  • Algumas podem escolher sempre os mesmos brinquedos ou mudar de uma atividade a outra com frequência, não concluindo essas atividades.
  • Podem ser desajeitadas e esbarrar em tudo que encontram. É comum também ter dificuldades de pegar uma bola ao ser jogada, não antecipando o movimento.
  • Alguns podem apresentar dificuldades na alimentação. A alimentação costuma ser mais seletiva, escolhem alimentos com base na mesma textura ou consistência.
  • Com vestuário, as etiquetas nas roupas incomodam ou a textura do tecido pode incomodar.
  • Podem apresentar dificuldades com higiene pessoal. Por exemplo podem ficar incomodadas ao cortar as unhas e os cabelos. Atividades simples como escovar os dentes parece muito sofrido.
  • Podem se sentir desconfortáveis ao andar de carro ou com barulho de eletrodomésticos. Outro comportamento que pode ser observado é que não gostam de se sujar. Alguns também podem cheirar objetos. É comum que evitem lugares com barulho ou luzes em excesso ou que comece a balançar o corpo para controlar o ambiente externo. Para se autorregular.
  • Também é comum ficar incomodado com um simples carinho, reagindo agressivamente ou parecer ansioso com o toque. Muitos evitam o toque e estão sempre distantes das pessoas. Essas crianças podem se recusar a andar descalços, chorar quando tomam banho ou querer passar muito tempo no chuveiro.

Bom, então se você observar sinais como os que eu acabei de citar aqui você deve procurar um Terapeuta Ocupacional (TO) especialista em integração sensorial que é o principal profissional que trabalha com TPS para realizar o diagnóstico e intervenção.

O TO vai fazer uma Avaliação de Processamento Sensorial. Uma avaliação padronizada com testes fundamentados e comprovados por pesquisas científicas. Por meio dessa avaliação vai ser possível direcionar o melhor tratamento e dar mais orientações para a família e a escola.

Conhecer o perfil sensorial da criança é muito importante, pois há associação direta entre o comportamento apresentado e a maneira como uma sensação é recebida do meio ambiente.

É muito importante que o autista passe por essa avaliação e comece a realizar a terapia de integração sensorial para ganhar qualidade de vida. E sempre importante dizer que os terapeutas precisam do apoio dos pais, dos  familiares para que o tratamento seja efetivo.  A família precisa participar das terapia.

Na terapia de integração sensorial os terapeutas usam ferramentas e realizam atividades que estão presentes no cotidiano da pessoa. Geralmente, eles propõem intervenções que favorecem a recepção, o processamento e a resposta adaptativa ao meio pela integração de informações sensoriais.

A terapia de integração sensorial trabalha em várias frentes, mas fornece principalmente condições para que a criança explore o ambiente. Também promove o aumento da habilidade em manter a atenção. Ela melhora a coordenação e os movimentos para que a criança tenha sucesso nas atividades. Além disso, contribui com a autoestima e  melhora nos aspectos sociais do autista.

A terapia vai ajudar a criança com dificuldade de integração sensorial a administrar suas sensibilidades e desejos.

As técnicas de terapia de integração sensorial são simples e, em alguns casos, podem ser feitas em casa. Tais alternativas procuram trazer mais conforto a quem tem dificuldade em processar informações sensoriais. Auxiliando aqueles que tem excesso, ou falta de sensibilidade em algum dos sentidos.

Exemplos de algumas técnicas

– Toque de texturas – se a criança sente um incômodo ao tocar em determinadas texturas, o terapeuta estimula esse contato aos poucos com brincadeiras ou brinquedos como massinha de modelar. Depois que ela se acostumar com a sensação, será possível avançar para outros objetos com texturas similares.

– Tocar o corpo – é importante ter a capacidade de reconhecer o espaço que o próprio corpo ocupa no ambiente. O terapeuta pode ajudar a criança com brincadeiras a reconhecer partes do corpo com espelhos, por exemplo.

– Balanço e gira-gira – para estimular o aparelho vestibular, as crianças podem brincar em balanços ou girar o corpo para regular a noção de gravidade do corpo. Os movimentos vão ajudar a controlar o equilíbrio corporal.

– Tapete sensorial  – para quem tem pouca sensibilidade tátil pode ser uma boa ideia brincar com um tapete retangular repletos de diferentes texturas. Dessa forma, a pessoa compreende melhor o tato e estimula o cérebro para se adaptar. Ela pode segurar outros objetos e perceber seu formato.

 Estímulo com pressão – algumas pessoas são hipossensíveis e sentem-se mais confortáveis quando estão fisicamente pressionadas. Aqui pode ser usado um cobertor pesado ou um colchão fino em cima do corpo, por exemplo. É preciso muito cuidado para a criança não  se machuque.

O terapeuta trabalha de forma individual com a criança com o TEA, de acordo com a sua dificuldade sensorial. É comum que aquelas que sentem dificuldades com texturas realizem brincadeiras com diferentes materiais como massinhas, água, papel, cola, adesivo e areia, por exemplo.

Quem é muito sensível ao toque pode passar pela dessensibilização. Ao realizar atividades que o incomodam como por exemplo escovar os dentes. Há também um dispositivo que simula a sensação física de um abraço, limitando o espaço e pressionando o corpo para gerar uma sensação de bem-estar e tranquilidade. Ele é conhecido como a máquina do abraço.

Os autistas que possuem sensibilidade a odores ou sons podem entrar em contato com brinquedos com fragrâncias ou musicais, por exemplo. O terapeuta pode experimentar diferentes tons de voz e diversos odores, avaliando sempre a reação do autista e mudando a estratégia sensorial sempre que necessário.

E no dia a dia, os pais e familiares são orientados a seguir algumas atitudes que melhoram o bem-estar e qualidade de vida dos autistas. Por exemplo, para quem sofre com a sensibilidade visual, os pais podem ser aconselhados a modificar o ambiente ou reduzir a iluminação da casa. Já quando o problema é com os sons, criam-se maneiras de reduzir os barulhos externos.

Em relação aos cheiros, pode se reduzir os perfumes, e quem apresenta dificuldade em relação ao toque, respeitam-se a suas preferências como texturas de alimentos e também explicam a importância de não tocar na pessoa sem sua permissão para que ela se sinta confortável.

Lembrando que é muito importante buscar ajuda especializada, encontrar profissionais capacitados para desenvolver a terapia de integração sensorial e melhorar a qualidade de vida dos autistas.

A longo prazo, a terapia de integração sensorial diminui a necessidade para adaptações e ajuda as pessoas a terem uma rotina normal, sem grandes limitações.

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Cofundadora da NeuroConecta.