Você já percebeu comportamentos diferentes no seu filho, aluno ou em uma criança próxima e se perguntou se podes ser sinais do autismo?
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição que afeta o desenvolvimento neurológico e traz prejuízos na comunicação, interação social e no comportamento.
Identificar os sinais do autismo precocemente é essencial para garantir que a criança receba o suporte adequado o quanto antes. O diagnóstico precoce, aliado a intervenções especializadas, pode fazer uma grande diferença no desenvolvimento e na qualidade de vida da pessoa com TEA.
Mas como saber se uma criança pode estar dentro do espectro? Quais são os comportamentos que merecem atenção?
Neste artigo, vamos explorar cinco sinais importantes do autismo, explicando cada um deles de forma detalhada para que pais, educadores e cuidadores possam compreender melhor essa condição.
1. Dificuldades na Interação Social
A interação social é um dos principais desafios enfrentados por crianças com TEA. Desde os primeiros anos de vida, é possível notar sinais que indicam dificuldades na comunicação e na relação com outras pessoas.
Um dos primeiros indícios de autismo é a falta ou pouco contato visual. Crianças neurotípicas costumam olhar nos olhos dos pais e cuidadores como forma de conexão e aprendizado, mas aquelas dentro do espectro podem evitar esse contato.
Outro ponto relevante é a falta de resposta ao nome. Enquanto bebês neurotípicos geralmente começam a reagir quando chamados por volta dos 5-6 meses, crianças com TEA podem parecer indiferentes, mesmo quando o chamado ocorre repetidamente.
Além disso, muitas crianças autistas demonstram dificuldade em expressar emoções e compreender as emoções alheias. Elas podem não perceber quando alguém está triste, feliz ou irritado, tornando as interações sociais desafiadoras. Esse fator pode impactar a formação de laços com familiares, professores e colegas.
A brincadeira em grupo também pode ser um obstáculo. Muitas crianças dentro do espectro preferem brincar sozinhas e evitam interações com outras crianças. Essa dificuldade na socialização pode se tornar mais evidente à medida que crescem e entram na escola, onde se espera que participem de atividades coletivas.
Outro comportamento comum é a falta de iniciativa para interações sociais. Crianças com autismo podem não demonstrar interesse em compartilhar experiências, pedir ajuda ou mostrar objetos de interesse para os pais ou amigos. Esse comportamento pode ser um sinal importante na avaliação diagnóstica.
Além da dificuldade em iniciar interações, também pode haver um déficit na manutenção do diálogo. Muitas crianças com TEA não seguem o fluxo natural das conversas, interrompem abruptamente ou falam de forma mecânica, sem considerar a reação do interlocutor.
O uso limitado de gestos comunicativos também pode ser um indicativo. Enquanto crianças neurotípicas apontam para objetos desejados, fazem expressões faciais variadas e usam gestos para complementar a fala, crianças com autismo tendem a ter um repertório gestual reduzido ou quase inexistente.
Outro ponto relevante é a dificuldade em entender normas sociais implícitas. Expressões como “fazer cara feia”, “ficar na sua” ou “dar espaço” podem não ser compreendidas de maneira natural por crianças autistas. Isso pode resultar em comportamentos inadequados ou desajustados em determinadas situações.
Por fim, é essencial lembrar que cada criança é única, e o nível de dificuldade na interação social pode variar. Algumas crianças com TEA podem apresentar desafios mais sutis, enquanto outras podem ter barreiras mais evidentes na comunicação. O diagnóstico precoce e a intervenção com terapias especializadas podem ajudar significativamente no desenvolvimento dessas habilidades.
2. Prejuízos na Comunicação Social
A comunicação social envolve a forma como uma pessoa se expressa, compreende e interage com os outros. No caso do TEA, muitas crianças apresentam dificuldades em diferentes aspectos da comunicação, o que pode impactar suas interações diárias.
Um dos primeiros sinais observados é a falta de reciprocidade na comunicação. Isso significa que a criança pode não demonstrar interesse em iniciar ou manter uma conversa, responder a perguntas ou interagir de forma natural em um diálogo. Em muitos casos, a comunicação ocorre de maneira unilateral, sem considerar as reações do interlocutor.
Outro ponto importante é a dificuldade em interpretar expressões faciais, gestos e tom de voz. Enquanto crianças neurotípicas aprendem a reconhecer sinais não verbais, como um sorriso indicando felicidade ou um olhar sério demonstrando preocupação, crianças com TEA podem não perceber essas pistas sociais. Isso pode dificultar a compreensão de emoções e intenções alheias.
A dificuldade em manter diálogos e trocas sociais também é um traço característico. Algumas crianças falam apenas sobre seus interesses específicos, sem perceber se a outra pessoa está interessada no assunto. Outras podem ter dificuldade em compreender turnos de fala, interrompendo conversas ou mudando de tema abruptamente.
Outro aspecto relevante é a pouca variação na entonação da fala e no uso da linguagem corporal. Crianças com TEA podem ter um tom de voz monótono, exageradamente formal ou com pouca variação emocional, tornando a comunicação menos natural.
Outro sinal importante é a dificuldade em compreender metáforas, sarcasmo e expressões figuradas. Crianças com TEA tendem a interpretar a linguagem de forma literal, o que pode gerar confusões em interações sociais. Frases como “estou com a cabeça nas nuvens” podem ser levadas ao “pé da letra”, dificultando o entendimento de contextos mais abstratos.
Outro sinal frequente é a falta de interesse em compartilhar experiências e sentimentos. Crianças neurotípicas costumam chamar os pais para mostrar um desenho que fizeram ou contar algo que aconteceu na escola, enquanto crianças com TEA podem não demonstrar essa necessidade de dividir informações pessoais ou buscar validação social.
Se você notar que uma criança apresenta dificuldades na comunicação social, falta de reciprocidade na interação e desafios na interpretação de gestos e expressões, é essencial buscar uma avaliação profissional. O acompanhamento adequado pode ajudar a desenvolver estratégias para melhorar a comunicação e a interação social, promovendo uma melhor qualidade de vida para a criança e sua família.
3. Comportamentos Repetitivos e Estereotipados
Um dos sinais mais marcantes do TEA é a presença de comportamentos repetitivos e estereotipados. Esses comportamentos podem envolver movimentos corporais, padrões de fala, interesses restritos ou rotinas rígidas.
Entre os movimentos mais comuns estão as chamadas “estereotipias motoras”, que incluem balançar o corpo, bater as mãos (flapping), girar objetos, pular repetidamente ou andar na ponta dos pés. Esses comportamentos podem ser usados como uma forma de autorregulação sensorial ou para expressar excitação e ansiedade.
Outra característica frequente é a fixação em padrões e rotinas. Crianças com TEA podem demonstrar resistência a mudanças, preferindo que suas atividades diárias sigam uma ordem específica. Pequenas alterações no ambiente ou no cronograma podem gerar grande desconforto emocional e até crises de irritação.
Além disso, é comum que apresentem hiperfoco em temas específicos, demonstrando um interesse intenso e exclusivo por determinados assuntos. Algumas crianças passam horas falando sobre dinossauros, números, mapas, planetas ou personagens de desenhos animados, por exemplo. Esse interesse pode ser tão intenso que dificulta a interação com outros assuntos do cotidiano, afetando o desenvolvimento e trazendo prejuízos.
A repetição de palavras e frases, conhecida como ecolalia, também é um sinal recorrente. Algumas crianças repetem frases ouvidas de vídeos, conversas ou músicas sem aplicá-las ao contexto. Embora esse comportamento possa parecer apenas um hábito, ele pode indicar dificuldades na comunicação espontânea.
Além da repetição de fala, algumas crianças demonstram fixação em determinados objetos ou brinquedos de maneira incomum. Por exemplo, podem insistir em carregar um item específico para todos os lugares ou brincar de maneira repetitiva e não funcional, como alinhar carrinhos ao invés de fazer corridas ou contar peças sem criar uma estrutura com blocos de montar.
Outro traço característico é a reação exagerada a mudanças inesperadas. Um pequeno desvio na rotina, como tomar banho em um horário diferente ou mudar o trajeto até a escola, pode causar estresse e comportamentos de resistência. Essa dificuldade em lidar com mudanças está ligada à necessidade de previsibilidade e estruturação no ambiente.
O uso repetitivo de gestos e expressões faciais também pode ser observado. Algumas crianças com TEA podem fazer caretas repetitivas, franzir a testa frequentemente ou demonstrar expressões que não condizem com o contexto da conversa.
Outro ponto relevante é a fixação em estímulos sensoriais específicos. Algumas crianças passam longos períodos observando luzes piscando, girando objetos ou ouvindo o mesmo som repetidamente. Esses comportamentos podem ser uma forma de estimulação sensorial e são comuns em pessoas dentro do espectro.
Por fim, é essencial compreender que esses comportamentos repetitivos não devem ser vistos apenas como “manias”, mas sim como um traço característico do TEA. Muitos deles estão relacionados à forma como a criança processa informações sensoriais e lida com emoções.
Saiba mais em: Por que escolher intervenções baseadas na ABA para autistas?
4. Hipersensibilidade ou Hipossensibilidade Sensorial
Muitos autistas apresentam diferenças na forma como percebem e reagem aos estímulos sensoriais. Essas diferenças podem se manifestar como hipersensibilidade (reação exagerada a estímulos) ou hipossensibilidade (resposta reduzida ou busca intensa por estímulos).
A hipersensibilidade sensorial faz com que certos sons, luzes, texturas ou cheiros sejam percebidos de forma extremamente intensa e incômoda. Algumas crianças podem tampar os ouvidos ao ouvir barulhos que, para outras pessoas, são normais, como o som de um aspirador, secador de cabelo ou sirene de ambulância. Esse incômodo pode gerar irritação, ansiedade ou até crises de choro.
Outro sinal comum de hipersensibilidade está relacionado à aversão a determinados tipos de toque ou textura. Crianças com TEA podem se recusar a vestir roupas com etiquetas ou tecidos ásperos, demonstrando desconforto extremo. Além disso, podem evitar certos tipos de alimentos devido à textura, rejeitando comidas pastosas, crocantes ou com misturas de consistências diferentes.
A sensibilidade à luz e ao movimento também pode ser um fator importante. Algumas crianças evitam ambientes muito iluminados ou ficam desconfortáveis com luzes piscantes e telas brilhantes. O excesso de estímulos visuais pode gerar sobrecarga sensorial e dificultar a concentração.
Já a hipossensibilidade sensorial leva a uma menor percepção dos estímulos. Crianças com essa característica podem não reagir a dores ou temperaturas extremas, continuando a brincar mesmo após se machucarem. Essa falta de resposta pode ser um risco, pois a criança pode não perceber que está em uma situação perigosa.
Além disso, crianças com hipossensibilidade ao toque podem buscar estímulos intensos, como apertar objetos com força, pular excessivamente ou se jogar contra superfícies. Algumas gostam de se enrolar em cobertores apertados ou procuram sensações táteis intensas, como pressionar a pele contra móveis ou esfregar as mãos em diferentes materiais.
Outra manifestação da hipossensibilidade ocorre na busca por estímulos auditivos. Algumas crianças repetem sons de forma intensa, fazem ruídos altos ou gostam de ficar perto de caixas de som com o volume elevado. Isso pode ser um mecanismo para regular o próprio sistema sensorial.
A relação com o movimento também pode ser afetada. Crianças com TEA e hipossensibilidade vestibular podem gostar de girar sem parar, correr de um lado para o outro ou balançar repetidamente sem sentir tontura. Isso acontece porque o cérebro processa o equilíbrio de maneira diferente.
Em alguns casos, é possível que a criança tenha uma mistura de hipersensibilidade e hipossensibilidade em diferentes sentidos. Por exemplo, ela pode ser extremamente sensível a sons, mas buscar estímulos táteis intensos, como apertar objetos ou rolar no chão.
Essas diferenças sensoriais podem impactar diretamente o comportamento e a rotina. Um ambiente muito barulhento ou iluminado pode ser angustiante para uma criança com hipersensibilidade, enquanto uma criança hipossensível pode buscar estímulos de forma intensa, tornando difícil mantê-la parada ou concentrada em atividades estruturadas.
Se você notar que uma criança apresenta reações exageradas ou ausência de resposta a estímulos sensoriais, é fundamental procurar um profissional especializado. Terapeutas ocupacionais especializados em integração sensorial podem ajudar a desenvolver estratégias para equilibrar essas respostas e proporcionar mais conforto e qualidade de vida para a criança e sua família.
5. Dificuldades na Brincadeira e no Imaginário
A forma como a criança brinca pode ser um dos sinais mais reveladores do TEA. O brincar é essencial para o desenvolvimento infantil, pois ajuda na interação social, na comunicação e na criatividade. No entanto, crianças com TEA costumam apresentar diferenças significativas na maneira como interagem com brinquedos, jogos e outras crianças.
Um dos primeiros indícios observados é a preferência por brincar sozinho. Enquanto crianças neurotípicas buscam compartilhar brinquedos e interagir com colegas, aquelas dentro do espectro podem se manter isoladas, sem demonstrar interesse em dividir a experiência com outras pessoas.
Além disso, muitas crianças com autismo apresentam dificuldade em brincar de faz de conta ou jogos simbólicos. Por exemplo, em vez de fingir que está cozinhando em uma cozinha de brinquedo ou que um boneco está conversando com outro, elas podem apenas alinhar os objetos, organizá-los de maneira repetitiva ou se interessar mais pelas características do brinquedo do que pela função dele.
Outro sinal comum é a fixação em detalhes específicos dos brinquedos, como girar as rodas de um carrinho em vez de brincar de corrida ou observar repetidamente as luzes de um brinquedo eletrônico. Essa preferência por padrões visuais e mecânicos pode substituir a brincadeira funcional.
A repetição de brincadeiras também é um traço frequente. Crianças com TEA podem realizar as mesmas ações repetidamente, como empilhar blocos sempre da mesma maneira ou insistir em seguir um roteiro fixo durante as brincadeiras, sem aceitar variações sugeridas por outras crianças ou adultos.
Além disso, algumas crianças autistas demonstram dificuldade em entender regras e dinâmicas de jogos coletivos. Brincadeiras que exigem turnos, como pega-pega ou esconde-esconde, podem ser desafiadoras, pois envolvem interação social e compreensão de normas que não são explícitas.
A resistência a mudanças na brincadeira também é um sinal importante. Muitas crianças dentro do espectro demonstram rigidez no brincar, recusando-se a experimentar novos jogos ou mudar a forma como interagem com um brinquedo específico. Essa resistência pode estar relacionada à necessidade de previsibilidade e estrutura.
Outro ponto relevante é que, mesmo quando tentam interagir com outras crianças, podem apresentar um estilo de brincadeira incomum. Algumas podem querer apenas falar sobre um interesse específico, sem considerar o que o outro está brincando, ou podem interagir de forma abrupta, sem entender as regras sociais do jogo.
A falta de imitação é outro traço importante. Crianças neurotípicas costumam aprender brincadeiras observando e copiando os outros, mas crianças com autismo podem não demonstrar interesse em imitar comportamentos, o que pode dificultar a aprendizagem de novas formas de brincar.
É importante lembrar que cada criança com TEA é única, e o grau de dificuldade na brincadeira pode variar. Algumas podem apresentar apenas pequenas diferenças, enquanto outras podem ter desafios mais evidentes.
Se você notar que uma criança tem dificuldade em interagir por meio da brincadeira, apresenta brincadeiras repetitivas ou evita jogos simbólicos, é fundamental buscar uma avaliação profissional. O acompanhamento com terapeutas especializados pode ajudar a desenvolver habilidades sociais e ampliar as formas de interação e aprendizado por meio do brincar.
Conclusão
Identificar os sinais do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) o mais cedo possível é fundamental para garantir um acompanhamento adequado e melhorar a qualidade de vida da criança e de sua família. Neste artigo, exploramos cinco sinais importantes do autismo, incluindo dificuldades na interação social, prejuízos na comunicação, comportamentos repetitivos, sensibilidades sensoriais e diferenças na forma de brincar.
É importante lembrar que o autismo se manifesta de maneira única em cada pessoa. Algumas crianças apresentam sinais mais evidentes desde os primeiros meses de vida, enquanto outras demonstram características mais sutis que só se tornam perceptíveis na fase pré-escolar ou mais tarde. Por isso, estar atento a qualquer diferença no desenvolvimento da criança pode fazer toda a diferença.
O diagnóstico do TEA deve ser realizado por um profissional especializado por meio de uma avaliação detalhada do comportamento e do desenvolvimento da criança. Quanto mais cedo for iniciado o acompanhamento, maiores são as chances de evolução na comunicação, interação social e autonomia.
Além do suporte profissional, a informação e o acolhimento são essenciais para que as famílias possam oferecer um ambiente seguro e estimulante para a criança. A terapia comportamental (terapia ABA), a fonoaudiologia e a terapia ocupacional são algumas das abordagens que podem auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas.
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