Preparando o autista para a vida adulta

Muito se fala sobre as crianças autistas, mas e como ficam os autistas depois que crescem? É bastante comum que os pais fiquem preocupados em relação ao futuro dos filhos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Como já falamos, as dificuldades encontradas pelos autistas podem ser trabalhadas, assim como suas habilidades, independentemente do grau do Transtorno.

Logo que a criança é identificada com o espectro do autismo é importante que sejam realizadas intervenções precoces para que ela possa se desenvolver e ter independência na vida adulta.

É importante que os pais estimulem a criança a aperfeiçoar suas habilidades para se desenvolver intelectualmente, a parte cognitiva e a forma de se comunicar.

Essa é a melhor forma de se assegurar que o adulto com o TEA conseguirá realizar suas atividades do dia a dia com segurança e dignidade. Sabemos que em alguns casos a pessoa com autismo vai ser sempre dependente de alguém, pois tem graus muito severos do autismo.

Muitos adultos com o TEA poderão ter uma vida normal e cuidar de si. Poderão aprender a cuidar da higiene pessoal e preparar suas refeições, assim como arrumar um emprego, constituir família e ter autonomia financeira.

Mas, como falamos, para chegar a esse cenário positivo de evolução, o autista precisa ter um acompanhamento desde cedo para trabalhar as suas limitações de comunicação e problemas sensoriais por exemplo.

Logo cedo, a criança precisa ser estimulada a conviver com outras pessoas e entender as regras sociais. Por isso, é importante investir em ações terapêuticas para que a pessoa com o TEA consiga se desenvolver.

Outra questão importante que temos que ressaltar é a dificuldade que o autista pode encontrar na sociedade. Entre elas, está o preconceito e desconhecimento do Transtorno. Provavelmente, o autista até chegar a fase adulta passará por bullying e será desencorajado a fazer suas atividades.

De acordo com algumas pesquisas, os adultos podem ter dificuldade em encontrar ou manter seus empregos. Nem sempre eles podem se comunicar adequadamente ou não lidam bem com a rotina de um escritório, por exemplo. Por isso, o apoio da família e de especialistas é fundamental em todo esse processo.

Outro ponto importante para destacar é que os adultos autistas possuem condições de saúde mais frágeis. Pesquisas sugerem que eles têm maiores taxas de problemas digestivos, distúrbios do sono, sistema imunológico mais frágil e são mais propensos a ter convulsões, diabetes, pressão alta e obesidade.

Além de obstáculos físicos, sociais e comportamentais, muitos adultos autistas enfrentam algum tipo de doença mental. Eles podem ter depressão e outros transtornos mentais, além de ansiedade. Sendo assim, precisam ter um acompanhamento médico constante.

Há casos ainda de pessoas que recebem um diagnóstico de TEA apenas quando adultos. Essas pessoas passam anos achando que não se encaixam nos padrões da sociedade e sofrem muito com isso. Geralmente, são pessoas com TEA de grau leve, que não apresentam deficiência intelectual ou déficit de linguagem.

Em muitos casos o adulto acaba recebendo o diagnóstico quando busca ajuda especializada para o filho que também está dentro do espectro.

O diagnóstico do autismo nesses casos pode ser um alívio, pois a partir desse momento a pessoa terá o suporte necessário para desenvolver alguns aspectos comportamentais e sensoriais. Cuidar de um adulto com autismo às vezes pode ser um desafio.

No entanto, compreender mais sobre a condição, procurar ajuda e fazer algumas mudanças simples pode facilitar a vida de todos os envolvidos na estrutura familiar.

Se você tem um filho ou parente com autismo, já deve ter percebido que a rotina ajuda a fazer com que ele se sinta mais seguro e confortável. Às vezes, quem tem o TEA possui hipersensibilidade a várias experiências sensoriais e adaptar o ambiente pode ajudar.

Nesses casos, é importante identificar os fatores no ambiente que causam sofrimento e eliminá-los. A comunicação também é importante e o autista precisa ser estimulado a se comunicar, falar o que sente, quais são suas necessidades para se sentir melhor.

O importante é saber que nunca é tarde para buscar o tratamento e com isso melhorar a sua qualidade de vida e da sua família.

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.