Estereotipias no Transtorno do Espectro do Autismo

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Definidas como movimentos, comportamentos e/ou atividades desencadeadas de maneira involuntária e repetitiva, as estereotipias são comuns no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Se você tem convívio com alguém no espectro, possivelmente tenha presenciado alguns comportamentos que caracterizam as estereotipais.

Movimentos realizados sem um motivo aparente, tais como o girar e bater de mãos, acenar, balançar cabeça, tronco e membros, abrir e fechar de boca; saltar, correr, pular, olhar objetos fixamente, cruzar pernas e bater pés, entre outros.

As denominadas estereotipias podem envolver um ou todos os sentidos. Geralmente incluem ações que duram segundos, minutos, às vezes horas.

Cada criança com autismo tem o seu próprio repertório de estereotipias, que podem evoluir com o tempo e, nem sempre, são consideradas nocivas ao autista.

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Podem estar ligadas a momentos de estresse, ansiedade, fadiga, convívio social e outros estímulos ambientais.

Por isso, esses comportamentos podem ser considerados “auto-estimuladores”, pois costumam proporcionar ao autista uma excitação sensorial de forma a acalmar ou até mesmo gerar uma sensação de satisfação interna.

A estereotipia pode ajudar a aliviar a tensão de um ambiente excessivamente estimulante, pois ajuda a desfocar dos estímulos externos e se concentrar em si.

Quando os episódios de estereotipia passam a interferir nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, afetando a capacidade de comunicação e socialização, uma intervenção terapêutica pode ser recomendada.

Identificar quando as repetições se tornam barreiras à realização das atividades diárias é o primeiro passo para melhorar a condição da criança, reduzindo ou eliminando os comportamentos estereotipados e reabilitando-a por meio da introdução de tratamentos, que incluem desde a Análise do comportamento aplicada (ABA) até medicamentos.

Estereotipias x Estereótipo: compreendendo as diferenças

É muito comum que os termos “estereotipia” e “estereótipo”, quando associados ao universo do autismo, se confundam.

Como observado, estereotipia é uma característica associada ao TEA. Já quando empregamos o termo “estereótipo”, refere-se a estigmatizar a pessoa com TEA.

O desconhecimento da população em geral sobre o espectro, bem como a maneira que ele é retratado na ficção, como em novelas e alguns filmes, pode contribuir ainda mais para uma representação equivocada do universo do TEA, rotulando o autista e restringindo sua capacidade individual.

Cada pessoa no espectro, seja ela criança ou adulto, tem características próprias e potenciais igualmente diferenciados que, quando desenvolvidos, permitem ao autista alcançar independência e autonomia em suas atividades diárias, bem como conviver em sociedade.

Conhecer para compreender, acolher e desenvolver. Em se tratando do TEA, o conhecimento é uma das mais potentes armas que há para cuidar de quem está no espectro, reduzindo assim os desafios característicos do distúrbio e possibilitando ao autista uma melhor condição de vida, sem rótulos, sem estereótipos que possam limitar seu potencial enquanto ser humano.

Referências:

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Dra. Fabiele Russo

Dra. Fabiele Russo

Neurocientista especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Cofundadora da NeuroConecta.