Deficiência intelectual: uma comorbidade comum no autismo

No artigo de hoje vamos falar sobre o autismo e a deficiência intelectual, que também é conhecida pela sigla DI. Mas vamos lá. Você sabe o que é deficiência intelectual? Essa condição antigamente era conhecida como retardo mental e trata-se de um funcionamento intelectual abaixo da média. Sendo assim, a pessoa com DI apresenta um quociente de inteligência, o QI, abaixo de 70.

Por isso, a pessoa com deficiência intelectual apresenta dificuldades para raciocinar, resolver problemas, planejar, refletir e também aprender. Além disso, é comum apresentar problemas para se comunicar e interagir socialmente. As pessoas com DI podem ser mais ingênuas e não compreender adequadamente algumas situações do dia a dia. Além disso, elas sentem dificuldade de compreender ideias abstratas, como metáforas, as vezes não tem noção de tempo e de valores monetários por exemplo.

A deficiência intelectual aparece desde os primeiros anos da criança.

Sendo assim, ela apresenta um nível de comportamento ou cognitivo muito abaixo para a idade cronológica. Por exemplo, uma criança de oito anos pode apresentar um perfil de comportamento de uma criança 4 ou 5 anos. Eles demoram mais para aprender e sentem dificuldade de se adaptar aos mais variados ambientes. Por isso, costumam ser crianças mais dependentes que precisam frequentemente de um adulto.

A deficiência intelectual pode variar de leve a profunda. As causas da DI ainda não foram totalmente esclarecidas, mas em geral ocorre devido a uma alteração no desempenho cerebral provocada por diferentes fatores: genéticos, distúrbios na gestação, problemas no parto ou após o nascimento.

Mas o que tem a ver com o autismo? É importante destacar que tanto a deficiência intelectual quanto o Transtorno do Espectro do Autismo são transtornos de desenvolvimento. E eles podem se manifestar juntos. Então a DI pode ser uma comorbidade associada ao autismo. Mas isso não quer dizer que todo autista tenha deficiência intelectual. É frequente que as pessoas tenham essa visão estereotipada de que o autismo equivale a deficiência intelectual. Mas essa crença é falsa.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), cerca de 40% das pessoas com o TEA possuem a deficiência intelectual. Sabe-se também que a deficiência afeta de 1 a 3 % da população autista e chega a atingir uma em cada cinquenta crianças em idade escolar.

O desenvolvimento de habilidades de pessoas com deficiência intelectual geralmente é lento. Já uma pessoa com o TEA sem DI pode aprender e progredir rapidamente e facilmente, mas ainda apresenta dificuldades de comunicação e nas interações sociais e comportamento.

Uma criança que esteja no espectro do autismo e tenha uma deficiência intelectual concomitante provavelmente aprenderá de forma diferente e precisará de apoio individual. Mas isso não quer dizer que não conseguirá aprender ou se desenvolver.

A deficiência intelectual em autistas impõem desafios na capacidade de um indivíduo aprender, adquirir e aplicar intelectualmente habilidades, mas não significa incapacidade de aprender.

É importante que o autista que tem deficiência intelectual tenha um acompanhamento multidisciplinar para conseguir se desenvolver de forma plena. Por isso, a pessoa pode passar por intervenções bem variadas que estimulam suas habilidades e a socialização. É muito importante que a crianças que tenham as duas condições sejam acompanhadas por psicólogos, fonoaudiólogos, neuropediatras e pedagogos para ter mais qualidade de vida.

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.