Como trabalhar a interação social no autismo?

Muitas crianças e adultos autistas apresentam dificuldades na interação social e precisam de ajuda para aprender a agir em diferentes tipos de situações sociais. Eles podem até mesmo ter o desejo de interagir com os outros, mas podem não saber como agir, fazer amigos ou conviver em sociedade. Por isso, quem tem o Transtorno do Espectro do Autismo pode não se comunicar verbalmente ou ter dificuldades na comunicação não verbal (gestos e expressões faciais). Alguns também não têm interesse em realizar atividades com outras pessoas.

Para as pessoas neurotípicas as habilidades sociais, ou seja, as regras, os costumes e as ações que guiam nossas interações com outras pessoas e o mundo ao nosso redor, são tarefas simples e que se aprende rapidamente. Já o desenvolvimento de habilidades sociais para pessoas com autismo pode ser mais complexo e necessitar de profissionais e familiares para que elas possam aprender e conviver em sociedade. Lembrando que a criança com autismo necessitará de estímulos e ser ensinada a agir em situações que exigem a interação social.

Veja, a seguir, algumas características que as pessoas com TEA podem ter que envolvem a dificuldade de interação social:

  • dificuldade em fazer contato visual com outras pessoas;
  • não responde quando é chamado pelo nome;
  • tem dificuldade para entender outras pessoas, como expressões faciais ou linguagem corporal;
  • não estão cientes das convenções sociais ou comportamento social apropriado;
  • são indiferentes ou não gostam de contato físico e afetivo;
  • não gostam de compartilhar objetos como brinquedos;
  • podem expressar as emoções em momentos inadequados, como rir na hora e no lugar errados;
  • prefere atividades solitárias e não tentam fazer amigos.

O que pode ser feito para melhorar a interação social?

O primeiro passo é buscar ajuda especializada para entender melhor a situação e encontrar profissionais que possam indicar as melhores ações e atividades para cada pessoa com TEA. Ter uma orientação e acompanhamento é fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo. As crianças precisam enxergar a interação de uma forma positiva e não como algo estressante ou que cause ansiedade. Há algumas estratégias baseadas em pesquisas que podem ajudar nesse processo.

É importante praticar novas habilidades sociais com o autista em vários lugares e também com pessoas diferentes. Para isso, é necessário escolher o momento ideal. Evite tentar em situações estressantes ou que ele esteja distraído, por exemplo.

O diálogo é fundamental! Por isso, os pais e cuidadores devem expor as situações do dia a dia e incentivar as pessoas com TEA a buscar soluções. Ao passear, é recomendado tirar fotos dos momentos e depois conversar sobre aquela atividade, deixar que ele ou ela fale o que sentiu e fazer associações positivas ao sair de casa.

Outra dica é fazer imitações de expressões faciais (triste, feliz, assustado, bravo) e explicar o que cada uma significa. Se quiser, coloque a criança em frente ao espelho e peça para que ela faça imite e entenda as semelhanças e identifique o que quer dizer. A criança com TEA também deve ser incentivada a expressar seus sentimentos e descrever o que sente, quais foram os motivos para se sentir assim.

Estimule as pessoas mais próximas a falar com a pessoa com TEA. É importante incluir o autista nas conversas, falar com ele, perguntar como ele está (mesmo que ele não responda). Pois, é uma forma de ele perceber que as pessoas ao redor se importam e vão interagir com ele.

Os livros de histórias com desenhos e imagens podem ser um aliado nesse processo. Peça para a criança com TEA interpretar e explicar o que entendeu, se ele não responder verbalmente, complete as frases explicando e situando o que está acontecendo.

A criança com TEA precisa brincar também e aprender como funcionam as regras. Explore brincadeiras nas quais as crianças precisam esperar sua vez. Jogos com bola, amarelinha e jogo da memória são excelentes opções.

Os pais devem fazer com que as pessoas com TEA conheçam novos lugares, vejam pessoas, passem por experiências que coloquem o aprendizado das habilidades sociais na prática. Considere atividades que a criança goste e as que não tolera, pois ela deve ser respeitada nas suas limitações e dificuldades.

É muito importante acreditar que seu filho autista é capaz de aprender essas habilidades. Se você não acredita que há potencial para mudança, seus esforços para ensinar novas habilidades podem não ser eficazes. Estimular a pessoa com TEA a interagir socialmente e participar de brincadeiras ajuda a melhorar a autoestima, as habilidades cognitivas, a controlar as emoções e estimular a motivação. Por isso, não desista diante das dificuldades e procure ajuda sempre que for necessário.

Referências:

https://www.autismspectrum.org.au/learning-module/social-interaction

https://www.autism.org.uk/about/communication/social-children.aspx

https://www.psychologytoday.com/us/blog/socioemotional-success/201706/helping-your-child-autism-improve-social-skills

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.