Apraxia e Autismo: compreenda a relação entre as condições e o impacto na capacidade de fala

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A capacidade de comunicação verbal é um dos aspectos que merece atenção entre as crianças que estão no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). A dificuldade de falar na infância é extremamente comum e pode ser uma limitação característica do espectro. Entretanto, pode ser sinal da chamada apraxia da fala, uma condição que pode impactar no desenvolvimento de linguagem verbal e social de crianças autistas.

Considerada uma desordem neurológica da fala (pediátrica – ou seja, na infância), a apraxia pode ocorrer como resultado de comprometimento neurológico conhecido, em associação com distúrbios neurocomportamentais complexos, como é o caso do TEA, conforme esclarece a Associação Americana de Fonoaudiologia.

A apraxia consiste em limitações para realizar atividades como coordenar o uso da língua, lábios, boca e mandíbula para produzir sons de fala claros e consistentes, algumas das características da chamada apraxia da fala.

Vamos compreender melhor esse mecanismo. Quando queremos dizer algo, aquilo que desejamos expressar “nasce” em nosso cérebro para então ser concretizado em forma de palavras e verbalizado por nossa boca. Pois bem. Nossa mente dará sinal aos músculos da boca para emitirmos o som das palavras e emitirmos nossas mensagens. No caso da apraxia de fala, há uma espécie de falha no envio das mensagens do cérebro à boca de maneira eficaz, mesmo que não haja comprometimento na musculatura oral.

Sinais, diagnóstico e terapêutica

Entre os sinais mais comuns que podem indicar apraxia da fala, podemos citar*:

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  • Pausas longas entre os sons das palavras proferidas
  • Nem sempre diz uma palavra da mesma maneira
  • Dificuldade (motora oral) para comer
  • Compreende melhor o que ouve do que sua capacidade de falar
  • Tem mais dificuldade em dizer palavras mais longas do que as mais curtas.
  • Parece ter mais problemas para falar quando está nervoso.
  • Difícil ser compreendido quando fala
  • Costuma errar consoantes e vogais ao proferir sílabas e palavras.
  • Dificuldade em repetir sequencias de palavras ou sílabas. Isso ocorre porque a criança não consegue mudar o som das palavras de sílaba para sílaba.

(Fonte: American Speech-Language-Hearing Association, com adaptações*)

O diagnóstico de apraxia em quem apresenta o espectro é mais complicado, pois seus sinais se assemelham às condições ligadas às limitações de linguagem comuns ao TEA.

Por isso, é preciso haver uma avaliação de um fonoaudiólogo que compreenda as especificidades do universo do TEA e possa analisar de maneira segura para que, se preciso, tenha início a intervenção terapêutica adequada com base nas necessidades de comunicação de cada caso.

Durante a análise, o fonoaudiólogo também avaliará a capacidade dos movimentos musculares da boca da criança, ou seja, como ela costuma mexer a mandíbula, lábios e língua.

O tratamento de apraxia pode ser longo e demanda constância. Além do profissional, familiares, cuidadores e educadores – no caso de crianças em idade escolar, devem contribuir com o processo terapêutico por meio da realização de atividades que estimulem a criança a aperfeiçoar sua capacidade de dizer sons, palavras e frases com clareza.

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O fonoaudiólogo poderá contribuir no processo de aprendizagem de como movimentar a boca, mandíbula e língua para pronunciar corretamente as palavras. Não se trata de fazer exercícios para fortalecer a musculatura oral, visto que a apraxia não se trata de uma limitação física, mas sim, uma desordem neurológica da fala.

Entre as condutas indicadas que podem contribuir com a melhora da capacidade de fala e, consequentemente com o desenvolvimento, é a Análise de Comportamento Aplicada.

Conexão Apraxia da Fala e Autismo

A apraxia da fala é considerada uma comorbidade comum no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Um estudo apontou que aproximadamente 65% das crianças no espectro podem apresentar a apraxia e 36,8% das crianças com diagnóstico inicial de apraxia também tinham autismo. O que pode indicar a correlação que há entre as condições.

Como conclusão da análise, os pesquisadores ressaltaram a importância de monitorar todas as crianças diagnosticadas com apraxia quanto a sinais de autismo e vice e versa (todas as crianças diagnosticadas com autismo por sinais de apraxia). Segundo eles isso ajudará a identificar as crianças o mais cedo possível e permitir o acesso a serviços adequados às suas necessidades. [Esse estudo foi publicado em 2015 no Journal of Pediatrics Developmental & Behavioralpor pesquisadores da Faculdade de Medicina da Pensilvânia e ganhou repercussão nas comunidades internacionais que repercutem o tema “autismo”

Referências

American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) Childhood apraxia of speech. 2007a. [Position Statement]. Disponível em  https://www.asha.org/public/speech/disorders/Childhood-Apraxia-of-Speech/#signs

Shriberg LD, Paul R, Black LM, van Santen JP. The Hypothesis of Apraxia of Speech in Children with Autism Spectrum Disorder. Journal of autism and developmental disorders. 2011;41(4):405-426. doi:10.1007/s10803-010-1117-5. Disponível em <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28141716>

Tierney, Cheryl MD, MPH*; Mayes, Susan PhD†; Lohs, Sally R.‡; Black, Amanda‡; Gisin, Eugenia‡; Veglia, Megan‡. How Valid Is the Checklist for Autism Spectrum Disorder When a Child Has Apraxia of Speech? Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics: October 2015 – Volume 36 – Issue 8 – p 569–574. doi: 10.1097/DBP.0000000000000189. Disponível em <https://journals.lww.com/jrnldbp/Citation/2015/10000/How_Valid_Is_the_Checklist_for_Autism_Spectrum.3.aspx>

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Cofundadora da NeuroConecta.