Alfabetização e autismo: quais são os desafios?

A alfabetização em crianças com autismo pode ser um desafio para os pais e professores. Isso acontece porque que os alunos com autismo experimentam desafios específicos em relação ao processo de aprendizagem. 

A escrita, por exemplo, é um desafio para muitos estudantes autistas, pois envolve coordenação, força muscular, habilidades motoras, habilidades de linguagem e organização.

Como cada criança com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é única, é importante que seja observada as características individuais – como a criança percebe o mundo, suas dificuldades, comorbidades, desenvolvimento linguístico, pensamentos e o que ela faz para lidar com suas dificuldades e frustrações.

Por isso, pode ser necessária a ajuda de diversos profissionais da educação e realizar uma avaliação psicopedagógica para avaliar a cognição e psicomotricidade, além das formas de se relacionar com o mundo.

Essas questões são fundamentais para criar estratégias na hora de alfabetização, adequar o ambiente às necessidades da criança com TEA e contribuir para a inclusão.

Saiba mais em: Inclusão escolar: um direito do autista

Dificuldades na hora do aprendizado

Crianças autistas, muitas vezes, têm dificuldade em aprender de maneira tradicional, porque seus cérebros simplesmente não processam informações da mesma forma que as outras crianças fazem. Eles são conectados de maneira diferente e podem precisar de apoio extra em áreas específicas, como:

Compreensão– sentem dificuldades na compreensão, organização e planejamento da linguagem. Pode ser um desafio entender o que está acontecendo em uma história.

Perspectiva– a pessoa com TEA pode ter dificuldade em entender como funcionam os pensamentos e sentimentos dos outros. E não entender a motivação dos personagens nos livros, por exemplo.

Atenção– em alguns momentos, sentem dificuldades em manter o foco e a atenção na história.  E às vezes, crianças com autismo podem sentir dificuldade em compreender a história geral.

O que é possível fazer?

Há algumas técnicas específicas que ajudam nesse processo de aprendizagem. Entre elas, está a metodologia fônica, ou seja, primeiro ensina-se os sons de cada letra até chegar a pronúncia da palavra e permite que a pessoa consiga ler. Destacar o som das letras pode tornar o processo de alfabetização mais simples e efetivo.

É possível também usar a parte visual para que o estudante com TEA veja a formação das letras e em seguida de palavras. Há muitas habilidades iniciais de alfabetização que são essenciais para as crianças desenvolverem a leitura e a escrita.

Entre elas destacam-se a conversa (habilidade de falar e compreender o que se fala); conhecer uma variedade de palavras; compreender histórias; entender que as palavras podem ser divididas em sílabas e sons e saber que as letras produzem sons.

Para conseguir ler e escrever, a criança com TEA precisa conhecer o maior número de palavras possível para facilitar a aprendizagem. Também necessita compreender histórias, e entender que as letras compõem as palavras e que lemos da esquerda para a direita.

Além disso, precisam compreender que as palavras podem ser divididas em sílabas e sons menores e que as letras correspondem a certos sons.

Portanto, você não precisa esperar até que seu filho comece a escola para promover habilidades de alfabetização. Se possível, inclua na rotina algumas atividades que estimulem a leitura e a escrita e pode ajudar nesse processo.

Algumas dicas para facilitar a alfabetização:

– mostrar textos que fazem parte do dia a dia e estimular a compreensão, como os que estão em revistas, gibis, caixas de brinquedo, embalagens, cartões de aniversário;

– escrever o nome dos membros das famílias em etiquetas e usar na hora das refeições;

– deixar disponível  papel, lápis e giz de cera para que a criança possa rabiscar ou escrever quando quiser;

– muitas crianças gostam de ler livros ou revistas relacionadas a seus interesses especiais, como livros sobre dinossauros, revistas de automóveis ou de super-heróis.  Eles não devem ser desencorajados a ler esse material, pois os motivam a interagir com as palavras.

Na hora de escolher a escola, é necessário verificar se a instituição de ensino está preparada para dar todo o suporte que uma criança com TEA precisa.

Verifique também se há profissionais capacitados e o ambiente é seguro e propício para que ela desenvolva as suas habilidades, respeitando as suas limitações e individualidades.

Conte para gente! Você conhece alguém com TEA que passou pelo processo de alfabetização?

Referências:

Promoting literacy in students with ASD: the basics for the SLP. Disponível:https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18162646

Emergent literacy in children with autism: an exploration of developmental and contextual dynamic processes. Disponível:https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22301274

The Emergent Literacy Skills of Preschool Children with Autism Spectrum Disorder. Disponível: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27866349

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.