Atuação do fisioterapeuta no TEA: estimulando as habilidades motoras

Os fisioterapeutas têm experiência em avaliar habilidades motoras e atividades que envolvam força, coordenação, equilíbrio, controle respiratório, postura e marcha.

Quando falamos em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) geralmente associamos ao transtorno no desenvolvimento neurológico que impacta nas habilidades de comunicação (verbal ou não), sociais e comportamentais (atitudes e interesses repetitivos e restritos).

Entretanto, um outro aspecto – tão importante quanto os demais – também pode ser comprometido e merece atenção: as habilidades motoras.

Esse é um aspecto que vai além do olhar voltado aos movimentos repetitivos realizados pelos autistas, como os de braços e pernas.

Trata-se da análise dos desafios que se apresentam na marcha, na competência postural, no tônus muscular, na capacidade de planejamento motor, e na realização de movimentos grossos.

Essas preocupações podem variar de gravidade e afetar o desenvolvimento infantil da criança com TEA, interferindo em sua qualidade de vida em longo prazo, caso não seja adequadamente tratado.

Estudos recentes sugerem que os distúrbios do movimento em crianças no espectro desempenham uma parte fundamental no TEA. Estando presentes desde o nascimento, podem ser mais uma ferramenta indicadora para ajudar no diagnóstico precoce de TEA ainda nos primeiros meses de vida.

Diante dessa perspectiva, faz-se necessária uma intervenção integrativa e multidisciplinar precoce, que inclui diferentes profissionais como médicos pediatras, neurologistas, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e entre outros. Quem deve ser o responsável em manejar as deficiências motoras desta população é o fisioterapeuta.

Compreendendo os desafios motores e como o fisioterapeuta poderá ajudar

Habilidades motoras brutas: as habilidades motoras brutas são definidas como capacidade de realizar movimentos usando os membros superiores e inferiores (braços, pernas, tronco e pés). As crianças com autismo, em média, apresentam um atraso nesta área de desenvolvimento de em média seis meses, em relação àquelas chamadas “neurotípicas”, ou seja, que estão fora do espectro.

Tônus Muscular: no caso do tônus muscular, que responde pela flexibilidade do corpo, as crianças com autismo costumam ser mais enrijecidas, o que pode se tornar um obstáculo para a realização de movimentos, o que pode ocasionar em problemas de equilíbrio e quedas frequentes.

Marcha: já no que diz respeito à marcha, ou seja, a maneira como caminhamos, a criança com TEA pode apresentar um padrão diferenciado e andarem na ponta dos pés.

Normalmente, este distúrbio começa com uma idade média entre 18 e 24 meses de vida, quando costumam a aprender a andar. Mas, qual pode ser o problema em apresentar esse tipo de marcha? Caminhar na ponta dos pés pode diminuir a resistência física, causar dores e calos, fraqueza muscular nas pernas, entre outros.

Planejamento motor: Outro ponto que pode ser considerado nevrálgico para uma criança com TEA diz respeito ao planejamento de motor, que consiste na capacidade do cérebro em entender uma ação motora, descobrir como fazê-la e dar ordem aos músculos e as partes do corpo corretas a executarem essa atividade. Para quem está no espectro, uma simples tarefa de se movimentar de um lado para o outro de uma sala, por exemplo, pode ser desafiadora, devido à dificuldade de idealizar e executar este plano motor. A intervenção deste profissional deve ser projetada para atender às especificidades de cada pessoa com TEA, organizando o tratamento de maneira a estimular a reduzir a ansiedade do indivíduo e encorajá-lo, facilitando o aprendizado motor.

No caso de restrições motoras grossas, os fisioterapeutas poderão desenvolver exercícios como jogos funcionais, que possibilitem a criança aprender padrões de movimento dos membros, de forma a contribuir com o equilíbrio e a coordenação.

Se o problema é com a marcha, por exemplo, os fisioterapeutas podem contribuir ensinando a criança a alongar os músculos encurtados ou a fortalecer os mais fracos enquanto trabalham na biomecânica geral da marcha – ou seja, na readequação do padrão do andar.

Exercícios de força podem auxiliar no que cabe à melhora no tônus muscular. O planejamento motor também é uma área que pode ser aprimorada com treinamento específico e definição de metas com os pais e a criança.

Eles se concentram em desenvolver a capacidade de uma criança para que ela possa participar de ações diárias e rotineiras, como sentar e andar ou habilidades complexas, como chutar, jogar, pegar.

Quando não desenvolvidas, as competências motoras em crianças com TEA podem afetar a oportunidade de interações sociais e oportunidades de aprendizado. A fisioterapia poderá contribuir para que isso não ocorra.

Consulte um fisioterapeuta se tiver preocupações em qualquer uma das áreas retratadas neste artigo!

Referências:

Atun-Einy O, Lotan M, Harel Y, Shavit E, Burstein S, Kempner G. Physical Therapy for Young Children Diagnosed with Autism Spectrum Disorders–Clinical Frameworks Model in an Israeli Setting. Frontiers in Pediatrics. 2013;1:19. doi:10.3389/fped.2013.00019. Disponível em <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3860886/> Acessado em 27 de novembro

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Lloyd M, MacDonald M, Lord C. Motor Skills of Toddlers with Autism Spectrum Disorders. Autism : the international journal of research and practice. 2013;17(2):133-146. doi:10.1177/1362361311402230.
Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3188325/ Acessado em 27 de novembro de 2017.

Physiotherapy for children with autism. Physiotherapy New Zealand.
Disponível em http://physiotherapy.org.nz/your-health/blogs/physiotherapy-for-children-with-autism/#.Whv7h0qnE2w Acessado em 27 de novembro de 2017.

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.