A automutilação (ou autolesão) acontece quando alguém se machuca intencionalmente. Na maioria das vezes, é uma forma de enfrentar ou expressar um sofrimento emocional.
É comum que as pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) realizem a automutilação devido à ansiedade, estresse ou ao sentir dificuldade em comunicar seus sentimentos.
Estima-se que 30% das pessoas que estão no espectro pratiquem algum comportamento de automutilação. A intensidade pode variar de leve a grave, mas nunca com a intenção de se machucar ou desejar suicídio.
Pode ser um comportamento repetitivo e, em alguns casos, a pessoa autista realiza cortes na própria pele, bate em si mesma, bate a cabeça na parede, causa queimaduras em braços, pernas e abdômen. Também podem dar tapas, se morder, beliscar ou coçar a pele.
Outras causas
A automutilação também pode ser uma forma de estimulação sensorial. Um indivíduo com autismo pode se machucar como uma forma de aumentar ou diminuir seu nível de excitação.
Em muitos casos, a automutilação serve como meio de comunicação. A criança autista pode tentar transmitir um sentimento ou ideia com aquele comportamento que talvez não consiga expressar em palavras.
Sendo assim, a automutilação surge como uma necessidade urgente de expressar dor, medo, desprazer ou ansiedade.
Sinais e gatilhos
As características que se apresentam como fatores de risco para comportamentos de automutilação em crianças autistas podem incluir:
- Agressividade;
- Hiperatividade;
- Ansiedade;
- Problemas de sono e distúrbios de humor.
Alguns gatilhos podem contribuir com a ansiedade e automutilação em autistas. Os pais devem se atentar se o autista demonstrar que está se sentindo rejeitado, isolado, intimidado, com problemas na escola ou trabalho e também dificuldade de se adaptar.
E alguns sinais indicam que o autista está se automutilando. Entre elas, destacam-se cortes inexplicáveis, marcas de mordidas ou queimaduras, manchas pelo corpo, evitam expor o corpo mesmo no calor, ficam mais isolados, expressam sentimentos de fracasso e culpa.
O que pode ser feito
Para lidar com esses comportamentos, os pais e cuidadores devem primeiro compreender o que causa o problema. O ideal é buscar ajuda assim que perceber esse comportamento.
A intervenção precoce e o tratamento dos motivos que levam à automutilação são fundamentais para ajudar a controlar e prevenir que volte a acontecer no futuro.
Os pais e cuidadores podem manter um diário e anotar as crises de automutilação para rastrear as ocorrências e o que estava ocorrendo no momento. Isso ajuda a perceber detalhes e identificar gatilhos.
Pode ser bastante perturbador perceber que seu filho ou filha com autismo está se automutilando. Mas, depois do susto inicial, é importante buscar ajuda.
O tratamento para automutilação geralmente envolve terapias comportamentais e, em alguns casos, o uso de medicamentos. Para extinguir esse comportamento leva tempo. Por isso, o acompanhamento psicológico (e psiquiátrico) e o apoio dos pais faz toda a diferença neste processo.
A terapia comportamental pode ajudar as crianças a substituir os antigos padrões de automutilação por novas habilidades e estratégias.
Ao recompensar comportamentos positivos e ensinar novas habilidades de comunicação e enfrentamento, a terapia comportamental ajuda algumas crianças a cessarem o comportamento autolesivo.
Outras ações que podem ajudar
- Previna os comportamentos mudando o ambiente, aumentando ou diminuindo a estimulação e reorganizando horários e rotinas.
- Reforce os comportamentos positivos ao mesmo tempo em que introduz novas habilidades ou atividades de “substituição” que podem ser usadas no lugar das ações de automutilação.
- Elimine o reforço dos comportamentos de autoagressão, ignorando-os.
- Use a ciência ABA e a terapia ocupacional para aprender novas habilidades de enfrentamento, técnicas de comunicação e maneiras de controlar as emoções que levam a automutilação.
- Aumente a autoestima de seu filho ou filha, incentivando a independência e ajudando-o a adquirir novas habilidades.
A boa notícia é que todos esses problemas são tratáveis. Ao melhorar as habilidades e ensinar mecanismos de enfrentamento saudáveis, a criança pode aprender a ter suas necessidades atendidas de maneira saudável.
Referências:
https://www.autism.org/causes-and-interventions-for-self-injury-in-autism
https://www.autismparentingmagazine.com/autism-self-harm
https://www.autism.org.uk/advice-and-guidance/topics/mental-health/self-harm