Dificuldades Alimentares no autismo

A Seletividade Alimentar, que é um tipo de Dificuldade Alimentar que afeta cerca de 80% das crianças autistas e cerca de  30% das neurotípicas, ou seja, que não tem autismo ou qualquer outro tipo de atraso no desenvolvimento.

É um problemas muito comum e que precisa de atenção. Porém, sabendo o manejo das técnicas corretas, é possível conquistar uma boa alimentação e a nutrição adequada para o seu filho.

Primeiro você precisa compreender o que seu filho está passando, portanto, precisa saber o que é seletividade, o que é dificuldade alimentar, desta forma, você vai conseguir contornar melhor tudo isso.

O que é o comer normal?

O marco da seletividade alimentar normal se inicia aos dois anos de idade. É uma seletividade que a gente chama de típica, nesse marco dos dois anos acontecem várias mudanças no desenvolvimento da criança. Na idade pré-escolar a criança começa a ter preferências alimentares, elas começam a conhecer o sabor doce, conhecer o sabor do salgado, do refrigerante e começa a ter as preferências alimentares.

Com dois anos de idade elas começam a agir também mais pela parte do comportamento, então começam a escolher alimentos da preferências delas, como por exemplo o leite, a grande maioria gosta muito do leite, do sabor doce ao invés de comer a comida que lhe é ofertada, elas deixam de comer alguns alimentos mas voltam a comer uns dois, três dias depois ou ainda, depois de uma semana.

A quantidade de alimentos que essas crianças com seletividade alimentar típica (que é a seletividade natural) comem é bem abrangente, contém 50 ou mais alimentos.

Dentro dessa seletividade típica há uma variação de apetite, então aos dois anos de idade a criança consome menos alimento, porque o índice energético dela é um pouquinho menor, ok? Isso é normal.

A velocidade de crescimento diminui, então essas crianças necessitam de menos calorias. Portanto, aos dois anos é um marco que a gente percebe que a criança tem menos apetite, ela começa a comer menos.

Elas apresentam uma resistência em experimentar o novo, então rejeitam a comida sem mesmo ter experimentado antes, e gostam de comer somente alimentos que interessam à elas.

Mas se dentro do contexto comportamental dessa criança, tiver uma rotina alimentar adequada, ela consegue comer os alimentos que a gente quer que ela coma. E ela não exclui grupos inteiros de alimentos, então essa seletividade alimentar típica, é uma seletividade que oscila muito do que está dentro do esperado.

Seletividade Alimentar

E o que que seria a seletividade alimentar sem ser típica, que é a seletividade fora do normal, que a gente precisa ficar um pouquinho mais de alerta?

Lembra que a criança que come normalmente aceita cerca de 50 alimentos diferentes? Já em uma dificuldade alimentar, a criança que é mais seletiva aceita menos alimentos, ela come uma variedade de até 30 alimentos diferentes.

É aquela criança que deixa de comer, mas ser ofertar novamente daqui duas ou três semanas, volta a comer aquele alimento que rejeitou. Come pelo menos um alimento de cada textura e de cada grupo alimentar, então do grupo de frutas come uma, no grupo de legumes come outra, ou seja, de cada grupo de alimentos ela aceita comer pelo menos um determinado alimento.

Consegue tolerar o alimento perto dela, consegue interagir com alimento, às vezes chega até experimentar, colocar na boca, mas depois recusa, chega à tocá-lo, chega a interagir bem com esse alimentos.

E o que seria a recusa alimentar?

A recusa alimentar é um pouquinho mais grave tem que ser tratada de imediato.

São crianças que rejeitam e aceitam pouquíssimos alimentos, no máximo 20 alimentos. São crianças que geralmente só toleram crocante, ou somente alimentos brancos, ou só os pastosos, e dependendo do grau de dificuldade dessa criança, rejeita categorias inteiras de alimentos, por exemplo, se a criança rejeita uma fruta, ela rejeita todas as frutas, se rejeita uma verdura, rejeita todas as verduras.

Essas crianças requerem um tratamento a longo prazo, requer um manejo de comportamento um pouco diferente, são crianças com uma dificuldade alimentar um pouquinho mais grave. Elas não toleram sequer ficar no mesmo ambiente com outras pessoas comendo.

E tem crianças que chegam no grau de dificuldade de recusa alimentar tão grande que ficam desnutridas, ficam abaixo do peso, geralmente só querem leite. A  grande maioria das crianças com recusa alimentar, são crianças que vivem à base de leite, crianças que ficam só com uma madeira durante o dia inteiro. Por isso temos que ficar alertas e avaliar o porque disso, o porque das suas dificuldades.

Aversão oral

E temos também a aversão oral, que são aquelas crianças que não passaram pela fase oral no desenvolvimento dela, então são aquelas crianças que a mãe relata que não pegava muito o mordedor, não fazia a conexão “mão-boca“, que apresentam grande sensibilidade e medo excessivo de qualquer estímulo incluindo a parte orofacial.

São crianças que não gostam de chupetas, que tiveram dificuldades na amamentação, crianças que tem algum tipo de utensílio específico, não tolera qualquer tipo de utensílio, não tolera qualquer tipo de bico na mamadeira, apresentam dificuldades inclusive na escovação dos dentes.

E por fim, temos a neofobia alimentar

A neofobia alimentar nada mais é do que o medo de experimentar o novo. São aquelas crianças que tem vontade de experimentar, ficam com a boca cheia d’água, mas quando vai colocar o alimento na boca bloqueia, então o alimento para essa criança é como se fosse algo muito estranho.

Essas crianças apresentam mesmo uma neofobia, que é o medo, a fobia de ver um alimento. São crianças que sentem medo do alimento, crianças que sofrem ao ver um alimento de plástico, o alimento simbólico, uma brincadeira, se esquiva, tem medo, choram, tem crianças que até acelera o coração, dilatam as pupilas, então essas crianças têm realmente uma fobia alimentar.

Então esses são os tipos de dificuldades alimentares que as crianças podem apresentar. Se seu filho está passando por algum tipo de dificuldade alimentar procure um especialista para realizar as intervenções necessárias e garantir uma boa alimentação e nutrição.

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.