Preparando o autista para ingressar na universidade

A universidade pode ser um desafio para os estudantes universitários, especialmente para os autistas que podem apresentar dificuldades de adaptação e mudanças na rotina e também com a nova realidade.

Mas, com planejamento e o suporte adequado, os jovens conseguem realizar a graduação e aumentar a possibilidade de ter uma carreira de sucesso.

De acordo com o Censo de Educação Superior (Inep), entre os mais de 8 milhões de alunos matriculados em universidades brasileiras, 488 possuem o Transtorno do Espectro  do Autismo (TEA). Sendo que 212 estão em instituições de ensino públicas e 276 em privadas.

Para realizar esse sonho, os autistas precisam contar com o apoio dos pais, professores e instituições de ensino. Como as pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) aprendem de forma diferente, é importante que os materiais didáticos e de apoio escolar sejam adaptados de acordo com a necessidade do aluno.

É importante que a escola realize uma avaliação no aluno para saber quais são suas dificuldades. Além disso, precisa saber quais os conteúdos esses alunos não conseguem absorver e o que precisam aprender para ter sucesso nas provas dos vestibulares.

 Nessa fase, será avaliada a necessidade de manter o currículo da turma ou se o aluno precisará de conteúdos individualizados dentro de materiais didáticos específicos para melhorar seu desempenho. Depois, a equipe pedagógica, caso seja necessário, vai elaborar a produção do material didático adaptado, de acordo com as necessidades do aluno autista.

Além do material didático, o jovem autista que prestará o vestibular precisa ter o seu tempo de aprendizado respeitado. Os professores e coordenadores das escolas precisam se atentar para as atividades propostas e se o desempenho do aluno está sendo satisfatório. Se não estiver, é importante realizar mudanças no currículo escolar, modificar as instruções de atividades, alterar o formato das aulas, explorar novos ambientes, entre outras estratégias.

Como contribuir para essa transição do autista

O ensino médio é o momento em que os alunos são preparados para o vestibular e desenvolvem mais habilidades. Os pais também precisam se esforçar para ajudá-los a serem mais independentes e incentivar o jovem a se socializar.

Isso é bastante importante dentro das universidades, principalmente para trabalhar em projetos em grupos. Sabe-se que para quem tem o TEA o ambiente de uma sala de aula pode ser bastante difícil, pois há muitas pessoas em um local fechado se comunicando o tempo todo e com muitos estímulos sonoros.

Acompanhar como o autista está se adaptando a essas mudanças de rotina e ambiente é fundamental.

O autista tem dificuldade de interpretar a linguagem corporal, em manter relacionamento interpessoal e de interagir socialmente.

Os pais devem procurar ajuda profissional para evitar sofrimento, ansiedade e problemas emocionais nesse período.

Se for necessário, o autista precisa ter apoio de terapeutas, neurologistas, psicopedagogos e coordenadores do curso da faculdade para que o jovem não desista desse sonho e consiga concluir a graduação.

A escolha da universidade também é fundamental. Ela precisa oferecer profissionais de apoio, contribuir com as adaptações como flexibilização de conteúdo e até mesmo disponibilizar provas em formatos acessíveis para as necessidades específicas do aluno com autismo.

É bastante importante que os pais dos alunos conheçam o local de estudo e também levem o jovem antes dele iniciar as aulas, mostrar as salas de aulas, a biblioteca, salas de estudos, lanchonete e perceber como o autista reage e principalmente se ele fica à vontade naquele local.

Referências:

https://www.education.vic.gov.au/school/teachers/learningneeds/Pages/supportmaterials.aspx

http://portal.inep.gov.br/censo-da-educacao-superior

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Dra. Fabiele Russo

Neurocientista, especialista em Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Pesquisadora na área do TEA há mais de 10 anos. Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado “sanduíche” no exterior pelo Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD). Realizou 4 Pós-doutorados pela USP. É cofundadora da NeuroConecta e também, coautora do livro: Autismo ao longo da vida.